📄 Carta de Intenção: Como Conseguir uma Proposta de Compra da Sua Empresa por Escrito
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Toggle📌 Afinal, o que é uma Carta de Intenção de compra?
A Carta de Intenção (LOI) é uma proposta formal, redigida pelo comprador, onde ele descreve as condições iniciais sob as quais está disposto a adquirir o seu negócio.
Na prática, é o documento que transforma o comprador sério em comprador real — porque exige comprometimento, clareza e organização. A partir dela, a negociação deixa de ser hipotética e passa a ter estrutura.
Segundo orientação do Sebrae, a preparação para vender uma empresa envolve organização documental, clareza sobre preço justo e definição de critérios de qualificação — elementos que influenciam diretamente a negociação da Carta de Intenção.
Mesmo que você já tenha recebido uma proposta verbal — o que é bastante comum — nunca avance sem a versão escrita. Proposta verbal não gera compromisso, não pode ser analisada com precisão e, muitas vezes, cria mal-entendidos perigosos.
A Carta de Intenção deve incluir, no mínimo:
- preço ofertado;
- condições de pagamento;
- percentuais à vista e parcelas (quando houver);
- expectativa de financiamento ou capital de terceiros;
- prazo para realização da due diligence;
- pedido de exclusividade (quando aplicável);
- exigências do comprador no pós-venda;
- cláusulas de sigilo e não competição (non-compete);
- condições específicas para fechamento da transação.
Embora não seja um documento legal obrigatório, a LOI possui força moral e operacional dentro do processo. Ela funciona como o “acordo dos pontos principais” antes da verificação profunda dos dados e do contrato definitivo.
Por isso, jamais assine sem consultar seu contador e advogado — eles avaliarão impacto tributário, riscos jurídicos e implicações práticas da estrutura proposta.
A LOI só é válida se tiver estes 10 itens
(se faltar algum → já pode desconfiar)
✅ Todos os 10 = comprador sério
❌ Faltando 2 ou mais = 99% chance de dar problema
Em mercados mais maduros de M&A, a LOI é tratada como um documento preliminar fundamental para alinhar expectativas entre vendedor e comprador, como aponta a Investopedia.
🤝 Negociando com o comprador: o que esperar desta etapa
É totalmente esperado — e saudável — que na reunião com o comprador da empresa ele apresente um valor abaixo do preço pedido. Isso não significa desvalorização; significa apenas que existe margem de negociação, parte natural de vendas profissionais.
O comprador geralmente detalha:
- quanto pagará à vista no fechamento;
- se haverá retenção ou pagamento condicionado a metas (earn-out);
- necessidade de financiamento;
- como imagina conduzir a transição;
- garantias exigidas;
- plano de continuidade operacional após a aquisição.
A partir disso, entram os pontos críticos que você deve entender profundamente:
A forma de pagamento importa — e muito
O formato da operação modifica:
- o valor líquido recebido;
- o impacto de imposto de renda sobre ganho de capital;
- o fluxo de recebimento;
- o risco financeiro da transação.
Uma estrutura equivocada pode fazer você perder entre 10% e 30% do valor final somente em tributação. Por isso, envolva seu contador desde o início.
R$ 15 milhões pode valer MENOS que R$ 12 milhões
A forma de pagamento vale mais que o valor bruto
R$ 15 milhões
Parcelado em 60 meses
sem correção forte
Imposto de renda (pessoa física)
– 22,5%
≈ R$ 9,2 milhões
líquidos presentes reais
R$ 12 milhões
100% à vista no closing
Imposto (pessoa jurídica ou planejamento)
– 10 a 15%
≈ R$ 10,3 milhões
líquidos no bolso em 45 dias
O empreendedor que entende isso leva mais dinheiro para casa e dorme tranquilo.
Prazo de due diligence: não aceite prazos abusivos
O prazo deve ser:
- curto o suficiente para não travar a venda;
- longo o bastante para permitir auditoria, entrevistas e análise documental.
Para pequenas e médias empresas no Brasil, o razoável é 20 a 45 dias.
Empresas muito organizadas digitalmente conseguem finalizar em 15 a 30 dias.
Prazos exagerados indicam:
- comprador sem estrutura;
- tentativa de “cozinhar o processo”;
- estratégia de usar o tempo para renegociar o preço mais adiante.
Prazos saudáveis de Due Diligence em 2025/2026
(mais de 60 dias = 99% chance de dar problema)
| Nível de organização da empresa | Prazo saudável | Sinal |
|---|---|---|
| Tudo digital + data room pronto | 15 a 25 dias | 🟢 |
| Contabilidade OK + poucos papéis | 25 a 40 dias | 🟡 |
| Bagunça documental ou contabilidade complexa |
40 a 45 dias (máximo aceitável) |
🔴 |
Sigilo absoluto durante a investigação
Não é opcional — é obrigatório.
O comprador não pode, em hipótese alguma:
- compartilhar números com terceiros;
- envolver fornecedores, concorrentes ou colaboradores;
- usar informações internas caso não compre o negócio.
E você deve reforçar que todas as informações fornecidas até aqui são verdadeiras, completas e coerentes.
Exclusividade: aceitar ou não?
Conceda exclusividade apenas quando:
- o comprador for Categoria A;
- houver comprovação clara de capacidade financeira;
- houver histórico de seriedade e agilidade nas etapas anteriores.
Exclusividade com comprador fraco é um dos erros mais caros do processo de venda.
Exigências adicionais: pós-venda e não competição
É comum o comprador solicitar:
- permanência do vendedor por 30 a 180 dias;
- auxílio na transição com clientes, equipe e fornecedores;
- cláusula de non-compete entre 2 e 5 anos na mesma região.
Geralmente isso é razoável.
⚠️ Atenção: Cláusulas de não competição acima de 5 anos ou com abrangência territorial exagerada costumam ser consideradas abusivas pelo CADE e pelo Judiciário.
Antes de avaliar qualquer oferta escrita, é essencial que o vendedor tenha clareza sobre o valuation da empresa. Isso evita concessões desnecessárias e dá força na negociação. Para aprofundar esse ponto, vale revisar o guia: Como avaliar uma empresa no Brasil.
✍️ Como responder à Carta de Intenção de compra

Assim que receber a Carta de Intenção, você deve:
- Ler detalhadamente cada cláusula.
- Discutir com contador e advogado.
- Classificar termos aceitáveis, negociáveis e inaceitáveis.
- Decidir entre:
- aceitar,
- rejeitar,
- ou apresentar contraproposta.
A Carta de Intenção não é o momento de discutir minúcias contratuais.
Ela serve para alinhar apenas:
- preço,
- condições de pagamento,
- prazo da due diligence,
- exclusividade,
- e estrutura básica da transição.
Todo o restante será negociado posteriormente no contrato definitivo.
Se a proposta estiver abaixo das expectativas
Elabore uma contraproposta técnica, fundamentada em:
- valuation;
- múltiplos aplicáveis;
- histórico financeiro;
- capacidade de geração de caixa;
- comparações com transações semelhantes.
Nunca responda emocionalmente.
Negociação profissional exige lógica, dados e clareza.
Assinatura e formalização
Quando houver alinhamento nos pontos principais, ambas as partes assinam:
- a Carta de Intenção original, ou
- a versão modificada após contraproposta.
A partir desse momento, vocês entram oficialmente na fase de due diligence.
💰 Depósitos de garantia (caução/sinal): quando são usados e por que importam
Após a assinatura da Carta de Intenção, especialmente quando há um Corretor de Negócios profissional, o vendedor deve exigir um depósito de garantia entre 8% e 12% do valor do negócio.
Esse depósito fica retido em conta de terceiro neutro até:
- conclusão da due diligence;
- assinatura do contrato final;
- ou desistência conforme regras da LOI.
Em caso de desistência sem motivo justo, parte ou totalidade do depósito pode ser retida como break-up fee.
O depósito:
- demonstra comprometimento real;
- evita desistências oportunistas;
- protege o vendedor;
- filtra compradores amadores;
- impede perda de tempo com negociações paralelas estagnadas.
Sem corretor, você decide com seus assessores se exigirá o depósito e qual percentual utilizar. Quanto maior o risco percebido, maior deve ser a garantia.
Depósito de garantia (caução) – padrão de mercado 2025/2026
Sem caução, o comprador quase nunca está realmente comprometido.
| Percentual | Cenário | Observação |
|---|---|---|
| 8% a 12% | Com corretor profissional | Padrão atual do mercado |
| 6% a 8% | Sem corretor + comprador forte | Faixa aceitável |
| Abaixo de 6% | Qualquer situação |
Alta chance de comprador amador ou sem recurso aprovado 99% das vezes indica falta de preparo ou risco elevado |
Regra de mercado 2025/2026:
Quem não aceita caução mínima razoável dificilmente tem capacidade financeira real ou intenção firme de fechar o negócio.
Em desistência sem justa causa:
O vendedor permanece com 100% da caução como break-up fee
(total ou parcial, conforme negociado na LOI)
Antes de falar sobre caução, vale lembrar: uma Carta de Intenção só chega quando o funil de qualificação foi bem executado. Compradores amadores raramente avançam até aqui — e normalmente você identifica esses perfis nos primeiros contatos.
Se quiser revisar essa etapa, veja como devem ser os primeiros contatos com o comprador.
🔍 Próximos passos: início da due diligence

Com a LOI assinada e o depósito realizado (quando houver), a negociação entra em sua fase mais técnica: auditoria, validação de números, entrevistas, contratos, análises societárias e fiscais.
Chegar até aqui já é uma vitória importante: poucos empresários no Brasil conseguem conduzir o comprador até uma proposta formal.
🎯 Conclusão: a Carta de Intenção é o divisor de águas da venda
A Carta de Intenção é o momento em que:
- interesse vira compromisso;
- conversa vira documento;
- expectativa vira proposta concreta;
- e o comprador finalmente revela seu nível real de seriedade.
Ela separa curiosos de compradores qualificados e organiza o caminho até o contrato final.
Seguindo este guia com calma, assessoria qualificada e sangue-frio, você vende pelo preço máximo, com risco mínimo e de forma 100% profissional.